quinta-feira, 30 de junho de 2016

O PASSO ATRÁS DO REINO UNIDO

Numa atitude verdadeiramente patética de calar as vozes mais radicais dentro do seu próprio partido, o conservador senhor Cameron, primeiro-ministro inglês, resolveu brincar com o fogo e queimou-se!

A ideia de marcar um referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia foi, como facilmente se demonstra, um completo absurdo e uma verdadeira tragédia, não só para o próprio RU, mas também para a Europa e o resto do mundo.

A saída dos britânicos do seio da EU é, infelizmente, o retrato do estado comatoso em que se encontra a Europa, entregue que está a uma gente muito pouco recomendável, completamente afastada dos ideais que levaram à sua criação, entretida na sua agenda ultraliberal e na austeridade sem limites. Coitados! Ainda não perceberam que o grande mal desta Europa decadente é a sua desindustrialização e a consequente falência do tão amado Estado Social. 
David Cameron
O “Brexit” dos ingleses representa um retrocesso sem precedentes na construção daquele que é, muito provavelmente, o maior projecto criado pelo Homem em toda a história da Humanidade. 

As consequências desta brincadeira inventada por alguém que está muito longe de ser um líder, muito menos um grande estadista, vão ter um custo gigantesco e imprevisível.

A desvalorização da moeda inglesa é já uma realidade, tendo atingido valores assustadoramente baixos, algo que já não se verificava deste os anos oitenta do século passado.

Muitos acreditam que será uma coisa passageira e que rapidamente vão recuperar o terreno perdido. Não creio que seja assim tão simples!

Os problemas financeiros, económicos, políticos e sociais ainda não começaram verdadeiramente. Seguem dentro de momentos…

A desagregação do reino de Sua Majestade também, com países como a Escócia a querer outro referendo para se manter dentro da EU.

O consequente aumento dos custos das importações e das exportações vai agravar a situação económica de todos, inclusive a nossa. Se os ingleses estão convencidos que se safam com o amigo americano, com o que resta da Commonwealth, ou com a China, esse gigante com pés de barro, estão completamente enganados.

Muitas das empresas sediadas em terras de Sua Majestade também já fazem contas à vida. O melhor é sair ou ficar?

O problema dos refugiados também não ajudou nada. A entrada em massa de gente proveniente do norte de África e Médio Oriente à procura de uma outra vida, longe da guerra e da miséria, está a fazer com que os sentimentos de racismo e xenofobia comecem a pairar um pouco por todo lado. Algo que se pensava mais ou menos irradiado de uma Europa livre e democrática. 

Eu concordo que se ajude estas pessoas! O grande problema é que não há empregos para os que já cá estão, então para quê deixar entrar milhares de pessoas se não temos trabalho para lhes oferecer. Vão fazer o quê? Vão viver à conta de subsídios?

Muitos daqueles que votaram pela saída, no outro dia já estavam arrependidos ao verem que tinham caído na ratoeira. Agora andam numa lufa lufa a arranjar assinaturas para um novo referendo, algo que Cameron já veio rejeitar. Veremos se assim será... 

Assim ditou a votação das gerações mais velhas, quiçá menos letradas e menos esclarecidas. As gerações mais novas ficam de pernas cortadas a pensar naquilo que perderam à custa da imbecilidade e da demagogia. 

Mas será que é de um abanão destes que a Europa estava a precisar para acordar e mudar de rumo? Não creio! Vamos continuar agarrados a uma receita que não nos leva a lado nenhum, enquanto a classe política vai continuar entretida a tratar da sua sobrevivência. Enquanto as prioridades continuarem trocadas, a Europa continuará alegremente no seu declínio até ao colapso final.

terça-feira, 28 de junho de 2016

1º Texto do ´BLOG´

Não foi por acaso que escolhi este título para o meu primeiro comentário neste Blog. 

Venho falar de um assunto que tem estado (e vai estar) na ordem do dia e que, como era de prever, tem dividido opiniões e fazendo correr muita tinta. 

Falo do famigerado Acordo Ortográfico, das suas implicações na vida das pessoas, do completo disparate que tudo isto representa.

Estas escassas linhas servem para manifestar o meu total repúdio perante esta aberração a que alguns “iluminados” da nossa praça gostam de chamar “uniformização da língua”, mas que não é mais do que um verdadeiro atentado à língua portuguesa, uma língua com mais de 800 anos de história. 

Um grupinho de “mentes brilhantes”, certamente sem nada para fazer, decidiu unilateralmente que era preciso tornar a nossa língua, principalmente ao nível da escrita, um pouco mais de acordo com as necessidades de alguns dos chamados “países irmãos”, nomeadamente o Brasil, Moçambique ou Angola. 

Poderia elencar uma variedade de razões para demonstrar o absurdo da coisa, mas não querendo, de modo algum, cansar os eventuais leitores com grandes dissertações sobre esta matéria, diria que, na minha modesta opinião, esta fétida história se poderia resumir a uma questão de números. 

Portugal, no seu cantinho à beira mar plantado, com os seus míseros 10 milhões de habitantes, capitula, uma vez mais, perante interesses nem sempre muito claros, demonstrando a sua já crónica subserviência ao trazer estas e outras matérias à discussão, vergando-se perante os 200 milhões de brasileiros, os 30 milhões de moçambicanos, ou ainda os 25 milhões de angolanos. 

Nada me move contra estes povos! Também não acho que o busílis da questão esteja, por exemplo, na adaptação a uma diferente ortografia. O grande problema é que esta gente tem uma tremenda dificuldade em falar ou escrever correctamente o português, algo que é facilmente reconhecido por todos, inclusive por eles próprios. 

E eu pergunto: mas somos nós, o país que “inventou” a língua e a escrita, que tem de se adaptar, ou são os outros que o devem fazer? Parece-me que a resposta é óbvia, não acham? 

Mas se ainda houver quem tenha dúvidas pode sempre pedir a opinião ao mais recente membro da comunidade lusófona, a Guiné Equatorial. Um país que entra na dança a troco não se sabe bem do quê, muito menos com que propósito. De uma coisa tenho eu a certeza: não foi devido aos fortes laços que nos unem como povos! 

Mas não se assustem, é apenas mais um exemplo que ilustra na perfeição o amadorismo, a incompetência, o desnorte e a leviandade com que tratamos dos nossos assuntos!    

Assim sendo, quero deixar aqui bem claro que não aceito este retrocesso e que vou continuar a escrever como sempre fiz, ou seja, de acordo com a anterior ortografia!

quarta-feira, 15 de junho de 2016

O Esvaziamento da SIC Notícias

Anteriormente conhecido por CNL (Canal Notícias de Lisboa), este primeiro canal informativo na televisão por cabo, criado no final do Verão de 1999, viria a ser mais tarde adquirido pela SIC, tendo dado origem à SIC Notícias, a partir de Janeiro de 2001. 
Canal SIC Notícias


Quem ainda se recorda desses primeiros anos de emissão, e se quiser comparar com aquilo que hoje nos é oferecido, não pode nem deve ficar indiferente às colossais diferenças que se encontram no seu funcionamento.

Estou a falar do passado e do presente daquele que já foi, na minha modesta opinião, o melhor canal informativo da televisão por cabo em Portugal!

O início da SIC Notícias marcou uma clara diferença no panorama do audiovisual no nosso país. Para além de continuar a ser o único canal de informação na televisão por cabo, era também um canal que se distinguia claramente da sua congénere generalista, a SIC.

Enquanto uma tinha uma informação de cariz mais popularucho, mais sensacionalista e mais virada para os “fait-divers”, a outra dava uma especial atenção à informação mais relevante, deixando de lado o acessório. No dia em que esta clara diferença foi quebrada, já lá vão uns anos, e se começou a notar que já não havia qualquer diferença entre as duas, ou seja, quando tudo se tornou igual nos dois canais, a SIC Notícias começou a definhar.  

Recordo-me do tempo em que a SIC Notícias preenchia o horário com debates, uns a seguir aos outros, sobre os mais variados temas da actualidade e que duravam o tempo que tinham de durar. Não estavam constantemente a olhar para o relógio como agora. Chamar dois ou três convidados para dissertar sobre tudo e sobre nada, onde cada um abre a boca para dizer duas larachas, “e muito obrigada, até para a semana”, tornou-se verdadeiramente ridículo.

Recordo-me do tempo em que não era preciso estar de hora a hora sempre a dizer o mesmo. Sempre as mesmas notícias, sempre as mesmas imagens, sempre a mesma conversa. E eu a pensar que estas coisas das “cassetes” eram um exclusivo do PCP…
Recordo-me de programas como o “Toda a Verdade” ou o “60 minutos” que eram transmitidos a horas mais decentes.

Recordo-me que não se perdia tempo com programas demagógicos do tipo “Opinião Pública”, onde o povinho pode dar as suas opiniões sobre tudo e sobre nada, mas que tem como único objectivo, embora disfarçado, encher o bolso das operadoras telefónicas e, consequentemente, da própria SIC Notícias, ou melhor, do grupo Impresa.

Recordo-me da variedade de analistas e comentadores que por lá passavam todos os dias. Embora hoje ainda tenha um ou outro com alguma relevância, estamos muito longe daquilo que já foi. A debandada tem sido geral para outras estações da concorrência. O mesmo tem acontecido com jornalistas e ex-directores do canal. A situação financeira do grupo assim obriga…

Recordo-me que não se passava a vida em debates completamente estéreis sobre as incidências do mundo da bola. Quando não se tem nada para dizer, não há nada melhor do que uma “tertúlia” sobre futebol para encher o chouriço. Se não chegar, pode-se sempre recorrer a um directo à porta de um estádio qualquer para ouvir o chamado “vox populi” sobre as incidências do jogo. Se não resultar, também se podem virar para a sala de conferências de imprensa e ouvir, por exemplo, esse grande orador da nossa praça chamado Jorge Jesus. Portanto, escolhas não faltam…

Recordo-me do tempo em que os famosos directos eram utilizados de uma forma muito mais criteriosa. Pelos vistos, alimentar o circo mediático tornou-se uma obrigação, uma realidade, tudo em nome das sacrossantas audiências. No entanto, sempre ouvi dizer que os directos são para ser usados em casos excepcionais. São isso mesmo: uma excepção e não a regra. Os directos sem conteúdo, onde o principal objectivo é fazer render o peixe, não nos interessam para nada.

Recordo o tempo em que a publicidade ocupava muito menos espaço do que agora. Aquilo que temos hoje, é um verdadeiro absurdo! Intervalos publicitários de 10 em 10 minutos? Não lembra nem ao diabo!

A este propósito deixem-me perguntar o seguinte: essa cambada de inúteis da Alta Autoridade para a Comunicação Social já reparou que os tempos de publicidade estão claramente a ser violados? Segundo sei, as televisões privadas têm direito a 12 minutos/hora, enquanto a estação pública tem metade, 6 minutos. Alguém já reparou ou anda tudo distraído? 
Pedro Mourinho e Sara Pinto

Os cenários muito folclóricos para criar a sensação de modernice e rejuvenescimento, a que se junta um par de jarras a apresentar as notícias, também não tem qualquer interesse. Não faz qualquer sentido ter duas figurinhas a apresentar um noticiário, quando o trabalho pode ser perfeitamente realizado apenas por um. É a minha opinião! Mas a mim sempre me interessou mais o conteúdo do que a forma das coisas…

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Programa televisivo “Olhos nos Olhos”

No meio do miserável panorama televisivo que nos rodeia, ainda há um programa a que as pessoas deveriam prestar mais atenção. Falo do programa “Olhos nos Olhos”, exibido às terças-feiras na TVI24, um programa da autoria do Dr. Medina Carreira e com a apresentação (normalmente) de Judite de Sousa. Isto, claro, se não houver nenhuma futebolada para entreter a malta!


Sendo eu um apaixonado pelo futebol, não aceito que as televisões passem a vida a encher o chouriço com conversas perfeitamente inócuas em torno do maravilhoso mundo do pontapé na bola! Sempre vivemos com as prioridades trocadas, essa é que é a realidade… 

Ao estar sistematicamente a alterar a grelha da programação, a TVI demonstra uma total falta de respeito pelos telespectadores, algo que é muito usual neste tipo de lixeiras televisivas. Serei eu o único a queixar-me? Não creio!

Voltando ao tema, deixem-me acrescentar o seguinte: eu sei que neste mísero país à beira-mar plantado, o conhecimento e o saber nunca fizeram parte das preocupações da grande maioria do povo tuga! 
Dr. Medina Carreira

A ignorância e o analfabetismo sempre fizeram parte do cardápio das razões que nos impedem de sair do nosso ancestral atraso de vida. Estou em crer que serão ainda os resquícios dos 48 anos de salazarismo, onde o povo era mantido na mais profunda das ignorâncias, porque enquanto assim for, não há reivindicações nem exigências.

Assim sendo, o pagode vai sendo entretido com a receita do costume: uma saladinha mista de telenovelas, concursozinhos chunga, “talk shows” cheios de conversa fiada e “reality shows” de terceira categoria. Ah, e já me esquecia! Diariamente também gosta de dar uma espreitadela a essa grande referência jornalística que é o Correio da Manhã…

Será este o resultado de sermos um país completamente falido, quer financeiramente, quer intelectualmente? Acredito piamente que sim!

Mas como a exigência não é muita, os media vão servindo o prato que a larga maioria aprecia. É barato e dá milhões, isto é, audiências!

Felizmente ainda há uma ou outra alternativa para fugir às idiotices que nos querem impor! Tenho pena é que este tipo de programas não passe em sinal aberto para que todos pudessem ver e ouvir. O mais provável era que não tivesse grandes audiências. Pois é! Quem não gosta de ouvir as verdades, o melhor que tem a fazer é mudar de canal.

Ao contrário do que se possa pensar, num programa como este aprende-se muito. E porquê? Porque o ilustre Dr. Medina Carreira fala através dos números e dos gráficos que apresenta, muito longe, portanto, da retórica utilizada pelos nossos brilhantes políticos que, como alguns de nós já está careca de saber, nos mentem todos os dias e com quantos dentes têm na boca. O político que fala a verdade não ganha eleições! Então o melhor a fazer é manter o povinho na ilusão. Imagino que o “ódio” que esta gente sente pelo homem deva ser a todos os níveis notável!

Os últimos programas têm sido deveras elucidativos, principalmente aqueles em que Medina Carreira está sozinho, sem o convidado que costuma levar a cada programa. Quando está sozinho, o homem sente-se como peixe na água, e disserta sobre os problemas que continuam a fazer regredir o país de uma maneira clara, lúcida e sem rodeios. Sem papas na língua, se assim quiserem!

E, pela conversa dele, a coisa vai de mal a pior. Cinco anos depois do país ter falido e de ter pedido ajuda internacional, depois da “troika” e da austeridade que nos impuseram e dos sacrifícios que fomos obrigados a fazer, é com tristeza que se constata que afinal continuamos basicamente na mesma.

Diz ele que, e passo a citar: “se vamos continuar a insistir neste caminho, o mais provável é irmos bater outra vez na parede, ainda com mais estrondo, e a ter de pedir mais uns milhares de milhões de euros para não nos afogarmos de vez.” Concordo em absoluto com esta afirmação!

Num país sem economia, sem emprego e envelhecido, onde pensam os nossos responsáveis políticos encontrar as soluções que nos tirem do abismo?

A despesa pública não pára de aumentar, esteja quem estiver no governo. As exportações já viram melhores dias. A banca continua com a corda na garganta, mas isso não os impede de continuarem no mesmo caminho que os levou à desgraça, isto é, na concessão de crédito para compra de habitação e para consumo, em vez de o dar às empresas descapitalizadas, pois são essas que criam riqueza e emprego. 
Programa "Olhos nos Olhos"

As famosas reformas estruturais de que tanto se fala não saem do papel. O exemplo mais gritante é a reforma do Estado que ninguém tem coragem para fazer. Assim vai continuar até que apareça alguém com eles no sítio capaz de a fazer, doa a quem doer. Os dois principais partidos do nosso espectro político, PS e PSD, não estão, nem nunca estiveram interessados em enfrentar o problema de frente, uma vez que isso implica o “despedimento” das respectivas clientelas partidárias.

O Tribunal Constitucional também não permite que se mexa na despesa. Do alto da sua imensa sabedoria, em vez de olharem para os números, agarram-se à sacrossanta Constituição. Tocar na despesa do Estado? Nem pensar! Isso é sagrado. Pudera, também lhes toca…

Os camaradas do PCP, através dos sindicatos, também não querem ouvir falar em reformar o quer que seja. Muito pelo contrário. Têm horror a tudo o que seja iniciativa privada. Querem que tudo esteja nas mãos de um Estado já de si obeso, completamente burocrático e ineficiente. O Estado paga tudo. Querem um Estado que garanta o emprego vitalício e os direitos adquiridos das corporações, ou melhor, da chulagem que sempre se habituou a viver à conta do erário público.

Se a economia não arranca e não se pode mexer na despesa, então qual é a alternativa? A resposta é óbvia: mais impostos, taxas e taxinhas. Acontece que o nível da fiscalidade em cima das empresas e das pessoas já atingiu o ponto máximo da saturação. Mas se juntarmos a isto o facto de uma boa parte das empresas e das pessoas não pagarem impostos, então temos um problema. E sério!

A garotada do Bloco anda, como sempre, entretida com as chamadas “questões fracturantes”. Assuntos importantíssimos para o futuro do país como sejam as barrigas de aluguer, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a eutanásia, ou ainda a mudança do nome do cartão do cidadão. Serão, certamente, estes assuntos que vão tirar o país do buraco! 
Dr. Medina Carreira

Enquanto esta malta toda, da esquerda à direita, andar entretida na Assembleia da República com questões vergonhosas como a reposição das 35 horas de trabalho para o funcionalismo público, garantidamente que não iremos sair da cepa torta. Era bom que esta gente ocupasse o seu tempo a discutir outro tipo de assuntos certamente bem mais relevantes para o nosso futuro colectivo, como por exemplo: a já referida reforma do Estado, como se vai conseguir atrair investimento para criar emprego, como se vai resolver a questão da sustentabilidade da segurança social, ou ainda o problema da baixa natalidade.

Com o PS refém dos novos “parceiros” de ocasião, este Governo limita-se a satisfazer as suas exigências e a tentar sobreviver a qualquer custo, pois aquilo que conta é manter o poleiro. Já sabem que se assim não for, a qualquer momento ficam sem o tapete e lá se vai o Governo.

Ainda ninguém sabe, mas palpita-me que esta “aliança” entre socialistas e a esquerda mais radical vai ter consequências desastrosas não só para o país, mas também para o próprio partido!

sábado, 11 de junho de 2016

EVERESTE – Para lá do limite!

Já passava do meio-dia quando aterrou em Kathmandu (1.400 m altitude), capital do Nepal, mais um voo proveniente do centro da Europa cheio de alpinistas para o início de mais uma época de escaladas nos Himalaias. Chegam todos com um único objectivo: chegar ao cume da montanha mais alta do mundo, o Evereste (8.848 m), essa maravilha geológica começada a construir há cerca de 70 milhões de anos, durante o Cretáceo Superior, quando a placa Indo-australiana rumou para norte e colidiu com a placa Euroasiática formando os Himalaias, um processo que ainda hoje decorre. Mas ainda mais extraordinário é saber que aquelas rochas que formaram estas montanhas estiveram outrora no fundo do mar. É mais um feito incrível da mãe natureza! 
Evereste - Face Norte

Depois de algum tempo de espera é hora de apanhar outro voo para Lukla (2.860 m), uma pequena localidade junto à fronteira com o Tibete, conhecida por ter o aeroporto mais perigoso do mundo e por ser a porta de entrada para o Evereste. Lukla significa o começo de uma aventura sem igual à face da terra, bela, desgastante e perigosa. Pela frente têm uma caminhada de 6 a 8 dias, acompanhados por centena e meia de sherpas e algumas dezenas de iaques. São eles que levam as várias toneladas de material para o sopé da montanha, uma vez que, tanto homens como animais, estão perfeitamente adaptados à altitude e ao terreno difícil. Pelo caminho vão pernoitando em pequenas aldeias, locais remotos e a cada vez a uma maior altitude, onde podem comer, descansar e tomar um banho. 
Evereste - Face Sul

Das várias rotas para chegar ao cume do Evereste há duas que são as mais usadas: pela face norte, do lado do Tibete (China), e pelo lado sul, do lado do Nepal. Esta última é a mais usada pelos alpinistas uma vez que é a mais “fácil” e a que requer menos técnica.

Chegados a 5.300 m de altitude, em pleno glaciar de Khumbu, do lado nepalês, é hora de montar o Acampamento Base (AB). Juntam-se a outras dezenas de expedições oriundas dos mais variados lugares do mundo e que se encontram já no local. É a partir daqui que tudo se vai desenrolar. Durante os próximos dois meses esta pequena cidade será o centro de tudo para aqueles que desafiam a montanha.

Aqui encontramos restaurantes, cozinhas, hospitais, comunicações, duches, tudo montado em tendas apropriadas para o efeito. A logística envolvida é algo de notável. Levam tudo aquilo que precisam à excepção, claro, da água. Toda a água utilizada é proveniente do gelo que há ali à volta. Só em comida cada expedição leva, por exemplo, qualquer coisa como 1.500 Kg de arroz, 1.500 Kg de massa, 7.000 ovos, 1.000 Kg tomate ou 1.500 Kg de carne que é guardada num frigorífico natural, ou seja, enterrada dentro de grandes recipientes de plástico no solo gelado. 
Iaques usados para transporte

As primeiras duas ou três semanas passadas aqui vão servir para os alpinistas fazerem aquilo que se chama “aclimatização”, isto é, adaptar o organismo à temperatura, à altitude e ao ar cada vez mais rarefeito. O controlo sistemático do ritmo cardíaco e dos níveis de oxigénio no sangue são uma obrigatoriedade. As náuseas, as dores de cabeça, vómitos ou a diarreia são uma realidade para os menos preparados, nada que uma visita de rotina ao médico que cada expedição leva não resolva. A estas altitudes a desidratação é enorme o que obriga cada alpinista a uma ingestão de vários litros de líquidos por dia e uma alimentação rica sobretudo em calorias.

Terminada a aclimatização inicial chega o momento de começarem as ascensões para os acampamentos de altitude. O terreno já foi entretanto preparado por alguns dos sherpas que têm como missão a fixação de cordas, a montagem de escadas de alumínio e o transporte do material para os acampamentos mais elevados, além de acompanharem os alpinistas até ao topo. Ninguém vai para estas montanhas sem os sherpas.

O primeiro obstáculo que os alpinistas têm pela frente dá pelo nome de “Icefall” ou cascata de gelo. Um labirinto de blocos de gelo deslizante do tamanho de casas com quase um quilómetro e meio de extensão a uma altitude de 5.486 m. As fendas profundas no gelo que têm de atravessar e as imprevisíveis avalanches tornam a caminhada extremamente perigosa. Alpinistas com experiência conseguem fazer o percurso em meia-dúzia de horas. A maioria opta pela subida ainda de noite ou ao raiar do dia para aproveitar o facto de o gelo estar mais estável. Este é o local que mais mata no Everest. 
Khumbu Icefall
ou
Cascata de Gelo


Chegam ao campo 1 (6.000 m), um pequeno acampamento que serve para continuarem a aclimatização. De cada vez que sobem os alpinistas aproveitam para levar algum material de que vão necessitar para conseguir atingir o cume. Passam aqui uma noite para irem habituando o organismo à altitude, voltando depois a descer até ao acampamento base. Esta rotina será repetida algumas vezes. 

Concluída esta fase de adaptação, a lenta caminhada prossegue em direcção do campo 2 (6.500 m) na base do vizinho do Evereste, o Lhotse (8.615 m), a quarta montanha mais alta do mundo. Pelo caminho têm de atravessar o “Valley of Silence” ou vale do silêncio. Em dias de muito calor as temperaturas podem chegar aos 35 graus, o que, juntamente com a escassez de oxigénio, provoca um desgaste tremendo nos alpinistas. 

A próxima etapa dá pelo nome de “Lhotse Face”, uma subida quase a pique com aproximadamente 1.300 de comprimento em gelo glacial. Em alguns locais as inclinações podem atingir os 40, 50 e até 80 graus, o que torna a escalada lenta e muito difícil. Nunca demoram menos de 5 -6 horas para concluir esta subida. 

Vão a caminho do campo 3 (7.160 m) em plena encosta do Lhotse. As próximas dificuldades dão pelo nome de “Yellow Band” ou banda amarela, uma zona de rocha sedimentária amarela com poucas centenas de metros, sem gelo e que dificulta muito a progressão dos alpinistas, uma vez que os crampons (peças com bicos que se adaptam às solas das botas dos alpinistas) não têm aderência. 
Subida do "Lhotse Face"

Segue-se a “Geneva Spur”, um pequeno cabeço coberto de gelo antes de se avistar o campo 4 (7.900 m), também chamado de “South Coul”. Durante algumas semanas os alpinistas subiram e desceram entre os vários campos, pernoitaram em altitudes cada vez mais elevadas, foram levando tudo aquilo de que vão precisar para a ascensão final, mas sobretudo usaram este tempo para irem adaptando o organismo às temperaturas cada vez mais frias, à altitude e falta de oxigénio, a chamada hipóxia. 

A estas altitudes é muito comum os alpinistas começarem a sentir o agravamento das suas condições físicas. Fadiga, náuseas, vómitos, falta de apetite, tonturas, tosse, sangramento do nariz, desorientação, ou pior ainda, edemas pulmonares ou cerebrais e até ataques cardíacos. 

Devido à falta de oxigénio no sangue o organismo começa a produzir mais glóbulos vermelhos (quantos mais glóbulos vermelhos houver mais oxigénio chega às células), o que torna o sangue mais espesso e que pode potenciar um ataque cardíaco. 

Depois de concluído o processo de aclimatização os alpinistas regressam ao ponto de partida, o acampamento base, para alguns dias de descanso e darem início à preparação para o ataque final ao cume. 
A caminho do Topo

Para isso acontecer têm de aguardar por uma “janela de tempo” favorável, ou seja, esperarem por 3 ou 4 dias de bom tempo e ventos não tão agressivos. Quando isso acontecer iniciam a rápida ascensão até ao acampamento final, o acampamento 4, descansam umas horas, comem e aguardam pela chegada da noite para o ataque final. 

Por volta da meia-noite começam a ascensão final até ao cume. Partem de madrugada para tentarem chegar ao cume por volta do meio-dia e terem tempo de voltar antes que a noite caia. Entram na chamada “zona da morte”, a 8.000 m de altitude. 

Aqui o oxigénio é um terço daquele que temos ao nível do mar, temperaturas até 40 graus negativos e ventos insuportáveis. A esta altitude o organismo começa rapidamente a deteriorar-se, os músculos começam a consumir as últimas reservas de gordura, o cérebro começa a "derreter". A desorientação é um problema, mas nada que se compare com a hipótese de vir a ter um edema cerebral ou pulmonar. As quedas podem acontecer a qualquer momento, todo o cuidado é pouco. Convém estar o mínimo tempo possível nesta zona, o que não invalida que se gastem entre 16 a 18 horas para chegar ao cume e regressar ao acampamento de onde partiram. 

Quatro a seis horas depois encontram o chamado “The Balcony”, a 8.400 m, uma pequena zona mais ou menos plana e que permite aos alpinistas recuperar o fôlego, comer e beber um pouco de chá, trocar de garrafas de oxigénio. 

A partir daqui já conseguem ver o que muitos julgam ser o cume, mas na realidade é o chamado “The South Summit”, o cume sul, e ainda está a uma distância de 3 a 5 horas. 
A caminho do Topo

Passado mais este obstáculo encontram o chamado “The Cornice Traverse”, um dos locais mais perigosos de toda a subida. Trata-se literalmente de caminhar no fio da navalha. Um pequeno corredor de gelo com talvez 15 a 20 m de comprimento, plano e muito estreito. Um pé em falso aqui significa uma queda praticamente a pique de quase 3 kms, tanto para um lado como para o outro. 

Próximo obstáculo: o famoso “Hillary Step”. Nome atribuído em homenagem a Sir Edmund Hillary, o primeiro alpinista a alcançar o cume em 1953, juntamente com o sherpa Tenzing Norgay. A 8.760 m este é o obstáculo mais difícil de ultrapassar e o último antes do cume. Uma parede vertical de 30 m de rocha exposta e gelo tornam a passagem muito demorada e bastante perigosa. Apesar das cordas fixas ao longo de quase toda a subida este é um local que não permite a mínima distração. 

O cume ainda se encontra fora do alcance da vista e a uma hora de distância. A estas altitudes os passos são dados quase em câmara lenta, um depois do outro, seguido de uma pequena pausa para tentar conservar as últimas energias necessárias para a descida. 

Mais um derradeiro esforço e … estão no tecto do mundo! É hora de contemplar as vistas, tirar umas fotos para mais tarde recordar e fazer um telefonema via satélite para aqueles que mais amam. 
O famoso "Hillary Step"

Apesar da euforia não se podem esquecer que não devem expor as mãos ou os olhos aos elementos. O congelamento dos dedos das mãos e dos pés, do nariz, também conhecido por "frostbite", ou ainda a cegueira provocada pelos raios ultravioleta podem ter consequências terríveis. A fadiga extrema e a falta de oxigénio no cérebro fazem com que o discernimento não seja o mais correcto, o que torna a descida ainda mais perigosa do que a subida. 

Por esse motivo as comunicações via rádio entre o chefe de expedição e os alpinistas são uma constante desde que abandonaram o acampamento base. É ele que controla todos os movimentos de quem se encontra na montanha, os avisa da mais pequena alteração meteorológica, do oxigénio e do tempo que já gastaram, mas também lhes recorda que ainda só fizeram metade do caminho e que está na hora de começarem a descer. 
Alpinistas no topo do Evereste

Passar uma noite a mais de 8.000 m é a mesma coisa que estar a assinar a sua sentença de morte. Aqueles que colapsam física e mentalmente, que sofrem de alguma das graves doenças provocadas pela altitude e pela falta de oxigénio, ou que simplesmente não conseguem caminhar pelo seu próprio pé, são deixados à sua sorte, isto é, para morrer. 
O cadáver mais famoso do Evereste
conhecido por
"The Green Boots Cave"

Acima dos 8.000 m não se pode fazer nada para salvar uma vida, é humanamente impossível. Onde caírem é onde ficam. Com o passar do tempo deixam de ser de carne e osso e passam a fazer parte da montanha, literalmente congelados no tempo. Ao todo, e desde que começaram as expedições, em 1921, a montanha já reclamou mais de 200 vidas. Uns morrem por exaustão, outros por doença, outros por quedas, outros porque simplesmente desapareceram. O Evereste é um cemitério a céu aberto. É este o lado mais sinistro de tão grandiosa epopeia. 
MALALA, um exemplo de coragem!

Malala Yousafzai, nasceu em Mingora, uma localidade no norte do Paquistão, situada no chamado Vale do Swat, a 12 de Julho de 1997. Aos 13 anos alcançou a notoriedade ao escrever um blog para a BBC sob o nome de Gul Makai, no qual defendia, entre outra coisas, o direito à educação das crianças no Paquistão.



Para quem não sabe, em países como o Paquistão, o Afeganistão ou o Sudão, por exemplo, as escolas são bastante diferentes daquelas a que estamos habituados a ver no chamado mundo civilizado, especialmente se estiverem situadas em zonas controladas por ´talibãs´. 
Malala Yousafzai

Nestas zonas, as verdadeiras escolas são arrasadas à bomba e substituídas por umas coisas com o nome fantástico de ´Madraças´. Aqui, o ensino das ciências, da matemática, da história, ou de outra coisa qualquer, é substituído pelo ensinamento do Corão na sua vertente mais radical. É aqui que começa a lavagem cerebral das crianças, onde se incute o ódio e o fanatismo religioso, perpetrados por uma bicharada que ainda vive na idade da pedra, e que tem como objectivo supremo combater os “infiéis”, implementar a “sharia” nesses países e conquistar o resto do mundo! Enfim, ao que chega o delírio destes imbecis!

Na tarde de 9 de Outubro de 2012, Malala e mais um pequeno grupo de raparigas regressavam a casa numa pequena carrinha vindas da escola, quando subitamente foram atacadas por dois ´talibãs´. Malala, foi barbaramente atingida com uma bala na cabeça. Outras duas estudantes também foram feridas neste acto selvagem. Malala, em pior estado, foi evacuada de helicóptero para um hospital militar em Rawalpindi, onde foi operada.
O ataque foi condenado pela comunidade internacional, através de figuras tão díspares como, por exemplo: Asif Ali Zardari, presidente do Paquistão, Susan Rice, diplomata norte-americana, Desmond Tutu, Ban Ki-Moon, Barack Obama, Hillary Clinton, Laura Bush ou Madonna. Do presidente da Comissão Europeia, o nosso Barroso, não tenho conhecimento que tenha feito alguma referência ao caso…
A 15 de Outubro, Malala foi transferida para o hospital Queen Elizabeth em Birmingham, Inglaterra, para continuar a sua recuperação. Após quase 3 meses de internamento, Malala deixa finalmente o hospital a 4 de Janeiro de 2013.
No dia 12 de Julho, dia do seu 16º aniversário, Malala discursa na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, onde é ovacionada de pé. No seu discurso volta a vincar os seus ideais de paz e a sua luta pela educação das raparigas. Torna-se um ícone para todos aqueles que querem ultrapassar a violência e a intolerância.

[…] “Vamos pegar nos nossos livros e canetas. Elas são as nossas armas mais poderosas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta, podem mudar o mundo. A educação é a única solução.” […] 
Malala discursa nas Nações Unidas

Esta foi a sua primeira aparição pública depois do ataque.
A 3 de Setembro, inaugurou em Birmingham a maior biblioteca pública da Europa.
A 10 de Outubro, foi galardoada com o Prémio Sakharov atribuído pelo Parlamento Europeu.
Na mesma altura foi nomeada para o Nobel da Paz, galardão que não viria a receber como se sabe, mas que ela achava ainda não merecer, pois ainda não tinha feito o suficiente.
A 11 de Outubro, foi recebida por Barack Obama na Casa Branca. Antes do
fim do ano seria recebida por Isabel II, rainha de Inglaterra.

A 10 de Outubro de 2014, foi anunciado ao mundo a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Malala pela sua luta contra a repressão das crianças e jovens e pelo direito de todas as crianças à educação. Com apenas 17 anos, Malala, foi a mais jovem laureada de sempre a receber tal distinção. 
Barack Obama recebe Malala na
Casa Branca


 Alguns prémios e honrarias:
- Prémio Nacional da Paz da Juventude (2011)
- Prémio Sitara e Shujjat – Prémio Coragem, terceira maior distinção no Paquistão (2012)
- Revista Foreign Policy – Lista Top 100 para pensadores globais (2012)
- Revista Time – Lista das pessoas mais influentes (2012)
- Prémio Madre Teresa para a Justiça Social (2012)
- Prémio Romano pela Paz e Acção Humanitária (2012)
- Prémio Simone de Beauvoir (2013)
- Prémio Fred e Anne Jarvis da União Nacional dos Professores do Reino Unido (2013)
- Prémio Internacional da Catalunya (2013)
- Prémio Anna Politkovskaya (2013)
- Prémio Sakharov (2013)
- Pémio Nobel da Paz (2014) 
Autobiografia publicada em Outubro de 2013

Penso que não ficaria nada mal ao Presidente da República, pessoa que gosta tanto de condecorar os “amigos”, convidar esta jovem a vir ao nosso país, aproveitando até o facto de estarmos em tempo de escola, e dá-la a conhecer às nossas crianças, levando-a a visitar uma escola ou uma instituição de apoio a crianças. 

Esta história recorda-me o ano de 2005, quando Jorge Sampaio era Presidente da República, e aproveitou a vinda a Portugal da banda irlandesa U2 para os condecorar, nomeadamente o seu líder e vocalista, Bono, com a Ordem da Liberdade, pelas suas acções humanitárias em todo o mundo. O problema é que Cavaco não é Sampaio, e na sua imensa cobardia prefere não se meter nestas coisas, talvez por temer represálias dos fundamentalistas islâmicos…

P.S. Este texto foi escrito em Dezembro de 2014

sexta-feira, 10 de junho de 2016

HACHIKO, um amigo para sempre!

Esta é uma história baseada em acontecimentos verídicos ocorridos no Japão durante as décadas de 20 e 30 do século passado. Nela se conta a emocionante relação de amizade e carinho entre um cão de raça ´Akita´, uma raça conhecida pela sua lealdade, e o seu dono, um professor universitário de Tóquio. Em 2009 esta história chega ao cinema através de um filme dramático de Lasse Hallström, com Richard Gere e Joan Allen nos principais papéis.

Em 1924, Hidesaburo Ueno, um professor do departamento de agricultura da Universidade de Tóquio, trouxe para esta cidade um cão de raça ´Akita´, uma raça de cães conhecida no Japão por ser extremamente leal ao seu dono. O professor Ueno, um grande amante de cães, baptiza-o com o nome de ´Hachi´ (Hachiko é o diminutivo de Hachi). Assim, todos os dias de manhã, Hachiko acompanhava o professor desde a sua casa até à estação de comboios de Shibuya, um bairro de Tóquio, e voltava ao final da tarde para esperar pelo seu dono. 
Cão de raça Akita


Para todos aqueles que frequentavam a estação ou trabalhavam por ali, a visão dos dois, que chegavam juntos de manhã e voltavam para casa juntos ao final da tarde, não podia deixar de impressionar todos profundamente. Esta rotina continuou até à primavera do ano seguinte, quando numa tarde de Maio o professor não voltou como era costume. A 21 de Maio de 1925, o professor Ueno sofreu um AVC durante uma reunião do corpo docente na universidade e morreu. Dizem os relatos da altura que, na noite do velório, Hachiko partiu as portas de vidro, entrou na sala e passou a noite deitado ao lado do dono. Ou ainda que, quando chegou a hora de colocar alguns objectos pessoais dentro do caixão, Hachiko saltou lá para dentro e tentou resistir a todas as tentativas para removê-lo. 

Depois da morte do professor Ueno, Hachiko foi enviado para casa de familiares do professor em Asakusa, no leste de Tóquio, tendo fugido diversas vezes voltando para a casa em Shibuya. Mais tarde, foi entregue ao ex-jardineiro do professor, uma pessoa que o conhecia desde pequeno, mas o cão fugia e voltava sempre para a casa do professor. Ao perceber que o professor já não vivia lá, Hachiko ia todos os dias à estação de Shibuya, como tinha feito no passado, na esperança de encontrar outra vez o seu dono e amigo. A figura permanente do cão à espera do dono, atraiu a atenção das pessoas. Algumas delas, frequentadoras habituais da estação, já tinham visto Hachiko e o professor indo e vindo diariamente no passado. Percebendo que o cão esperava em vão a vinda do dono, ficaram tocadas e começaram a trazer comida e petiscos para aliviar a sua dor. 

Durante nove anos seguidos, Hachiko aparecia ao final da tarde na estação, precisamente no momento de desembarque, na esperança de reencontrar o seu dono. Hachiko finalmente começou a ser compreendido pelas pessoas na estação de Shibuya. Uma delas, um aluno do professor Ueno, também ele amante de cães, ao conhecer a história de Hachiko, começou a publicar diversos artigos sobre a lealdade do cão em jornais locais. Mais tarde, a história chegou a um grande jornal nacional, todo o povo japonês ficou a saber e o cão tornou-se uma celebridade. A sua dedicação à memória do dono impressionou toda a gente. Pais e professores usavam Hachiko como exemplo para educar as crianças. 
Cena do Filme


Porém, a fama repentina de Hachiko pouca diferença fez na sua vida. Continuou exactamente a ser da mesma maneira. Todos os dias partia para a estação e esperava lá pelo professor para regressarem juntos a casa. Em 1929, Hachiko contraiu uma caso de sarna que quase o matou. Devido aos anos passados nas ruas, começou a ficar magro e com feridas das lutas com outros cães. Uma das orelhas já não se punha de pé. Entretanto envelheceu, tornou-se muito fraco e sofria de ´dirofilariose´, um verme que ataca o coração. 

Na madrugada do dia 8 de Março de 1934, com a idade de 11 anos, Hachiko morreu na estação de comboios, depois de 9 anos e dez meses de espera. A morte de Hachiko apareceu nas capas dos principais jornais do país, o que deixou muita gente inconsolável. Um dia de luto foi decretado. Os seus ossos estão sepultados ao lado do professor Ueno, no cemitério de Aoyama, em Tóquio. A sua pele foi preservada, servindo para embalsamar uma figura de Hachiko que pode ser observada no Museu Nacional de Ciências em Ueno, 

Tóquio. A 21 de Abril de 1934, uma estátua de bronze de Hachiko, esculpida pelo famoso escultor Tern Ando, foi erguida em frente da bilheteira da estação de Shibuya, com um poema gravado em cartaz intitulado “Linhas para um cão leal”. A cerimónia de inauguração foi um grande acontecimento, com a participação do neto do Professor Ueno e uma grande multidão de pessoas. Pelo país fora a fama de Hachiko espalhou-se e a raça ´Akita´ cresceu. 
Cena do Filme


Porém, mais tarde, a figura e a lenda de Hachiko foi distorcida e usada como símbolo de lealdade ao Estado, aparecendo em propaganda que difundia o fanatismo nacionalista que acabaram por conduzir o país à 2ª Guerra Sino-Japonesa, no final da década de trinta, e também à 2ª Guerra Mundial. Lamentavelmente, a primeira estátua foi removida e derretida para contribuir no chamado “esforço de guerra”, isto é, na produção de armamento durante a 2ª Guerra Mundial, em Abril de 1944. No entanto, em 1948, uma réplica foi feita pelo filho do escultor original, Takeshi Ando, e reintegrada no espaço original da anterior, numa cerimónia em 15 de Agosto. Esta é a estátua que está hoje na estação de Shibuya, e é um ponto de encontro extremamente famoso e popular. Todos os anos, no dia 8 de Abril, é realizada uma cerimónia solene em homenagem à história do cão leal. 
Estátua de Hachiko


 A lealdade dos cães de raça ´Akita´ já era conhecida pelo povo japonês há muito tempo. Em algumas regiões do Japão, são incontáveis as histórias de cães desta raça que perderam as suas vidas ao defenderem a vida dos seus proprietários. Onde quer que estejam estes cães têm sempre um “dos olhos” voltados para aqueles que deles cuidam. Por causa disso, o cão de raça ´Akita´ tornou-se património nacional do povo japonês, tendo sido proibida a sua exportação. Se algum proprietário não tiver condições financeiras para manter o seu ´Akita´, o Estado assume a sua guarda.


Cartaz do Filme
"Hachiko - Um amigo para sempre!"