quinta-feira, 18 de agosto de 2016

MICHAEL PHELPS – A LENDA

Natural de Baltimore, estado do Maryland, Estados Unidos da América, Michael Fred Phelps II nasceu a 30 de Junho de 1985 e é um dos maiores desportistas de todos os tempos. Especialista em 100m e 200m mariposa (borboleta), 200m e 400m estilos (medley), 4x100m estilos e 4x200m estilos, 200m livres, 4x100m livres e 4x200m livres, Phelps viria a marcar a história para sempre, deixando um legado difícil de superar. 
Michael Fred Phelps

Quebrou trinta e sete recordes mundiais e conquistou o maior número de medalhas de ouro (8) olímpicas numa única edição, feito alcançado nos Jogos de Pequim, na China, em Agosto de 2008. Com este resultado, Phelps superou as sete medalhas de ouro de outro nome lendário da natação e seu compatriota, Mark Spitz, conquistadas nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972.
Michael Phelps em competição

Filho de Fred Phelps e de Debbie Davisson Phelps, Michael começou a nadar com 7 anos, influenciado pelas suas duas irmãs mais velhas, Whitney e Hilary. Rapidamente se destacou como um excelente nadador, e quando tinha 10 anos de idade, bateu o recorde nacional de natação para a idade dele. Enquanto crescia, Phelps foi batendo sucessivos recordes e, com apenas 15 anos, consegue classificar-se para as Olimpíadas de 2000, em Sydney. Consegue um 5º lugar na final de 200m mariposa (borboleta). Cinco meses após os jogos, aos 15 e 9 meses de idade, bate o recorde desta mesma prova, tornando-se o mais novo nadador de todos os tempos a bater um recorde mundial de natação.
Phelps em 200m Mariposa

Dotado de um corpo particularmente propício para a natação, Phelps mede 1,93m e pesa 88 Kg. Com um tronco longo, linha de cintura baixa e pernas proporcionalmente curtas, acresce o facto de possuir braços excepcionalmente compridos, com uma envergadura de 2,01m. Os seus pés medem 29,8 cm aproximadamente, equivalente a calçar o número 48. Além disso, é ainda portador de hipermobilidade, sendo a sua flexibilidade de braços e pernas comparável à de um bailarino clássico.
Reacção de Phelps ao qualificar-se para o Rio 2016

Também conhecido por a “Bala de Baltimore” ou o “Peixe Voador”, Phelps bateu todos os recordes que tinha a bater. Quando obteve a sua 19ª medalha olímpica nos Jogos de Londres, em 2012, quebrou o anterior recorde que pertencia a Larissa Latynina, ginasta da antiga União Soviética das décadas de 50 e 60, que detinha um total de dezoito.
Phepls - O nadador completo

Ainda nos Jogos de Londres, venceu a prova de 200m estilos, tornando-se no primeiro nadador a conquistar o título olímpico três vezes consecutivas na mesma especialidade a nível individual, feito que já tinha conseguido na prova colectiva, a estafeta 4x200m livres.
Anunciou a sua retirada após Londres 2012, a quarta olimpíada da sua carreira, mas não consegue resistir aos apelos da mãe e regressa às competições em 2014 para começar a sua preparação para o Rio 2016.
Phelps o atleta mais medalhado das Olimpíadas 

Nos Jogos do Rio de Janeiro, ao ganhar nos 4x200m livres, Phelps torna-se no mais medalhado olímpico por equipas, deixando para trás a também nadadora norte-americana Jenny Thompson, que conquistou 8 ouros por equipas.
Mais uma medalha de ouro - Rio 2016

Ainda nos Jogos do Rio, com uma vitória nos 200m mariposa (borboleta), torna-se no nadador mais velho (31 anos e 40 dias) a ganhar uma medalha de ouro olímpica em provas individuais de natação, quebrando uma marca que já vinha dos Jogos de 1920.

Finalmente, com o ouro conquistado na prova de 200m estilos (medley), a 13ª em provas olímpicas individuais, Phelps superou uma marca que já durava há pelo menos 2168 anos e que vinha do tempo da Grécia antiga. Entre os anos de 164 e 152 A.C., Leônidas de Rodes conquistou 12 vitórias olímpicas em provas individuais.
O maior da História

Para lá de todos os títulos conquistados e dos recordes batidos em Campeonatos Nacionais e Mundiais, feitos que lhe renderam qualquer coisa como 43 ouros, 11 pratas e 1 bronze, Michael Phelps é o atleta mais medalhado na história dos Jogos Olímpicos com 23 medalhas de ouro, 3 de prata e 2 de bronze. Foi ainda eleito nadador do ano em 2003, 2004, 2006 e 2007.
Phelps inicia mais uma prova

De acordo com vários artigos publicados, o melhor nadador da história treina praticamente todos os dias, 6 a 7 horas seguidas, e ingere alimentos que lhe dão um suporte energético de cerca de 12.000 kcal por dia, o equivalente a cinco vezes mais as necessidades de um homem adulto médio.
Phelps nos 200m Mariposa

Jogos Olímpicos de Sydney 2000
   
- 5º Lugar nos 200m mariposa (borboleta)


Jogos Olímpicos de Atenas 2004
  
 - 6 medalhas de ouro e 2 de bronze


Jogos Olímpicos de Pequim 2008
   
- 8 medalhas de ouro


Jogos Olímpicos de Londres 2012
   
- 4 medalhas de ouro e 2 de prata


Jogos Olímpicos do Rio 2016
   
- 5 medalhas de ouro e 1 de prata


Texto baseado na página da WIKIPÉDIA

Os incêndios

Todos os anos, na altura do Verão, a tragédia repete-se com o flagelo dos incêndios. A falta de uma política efectiva para combater este problema é sempre discutida no calor do momento, mas rapidamente entra no esquecimento mal chegam as primeiras chuvas. 

Todos os anos, sem excepção, assistimos ao mesmo filme. O desordenamento da floresta e do território, os interesses obscuros, a falta de meios, a inoperância das câmaras municipais, a incompetência dos governos, o laxismo e a incúria das pessoas são sempre usados para esconder um grave problema que dura há demasiado tempo. Já é tempo mais do que suficiente para acabar com esta pouca vergonha! De retórica está o mundo cheio, já dizia o outro!
Uma imagem recorrente no Verão em Portugal

Não temos meios eficazes para o combate de incêndios! Os bombeiros estão relativamente bem equipados para incêndios de baixa e média intensidade, mas quando se trata de grandes incêndios os problemas reais ficam evidentes. O exército que podia muito bem ser utilizado na vigilância e prevenção desta calamidade, permanece enfiada nos quartéis à espera que chova… A Força Aérea acabou de nos dar uma novidade como se andássemos todos distraídos e ainda não soubéssemos: não tem meios para o combate!

Não sei se alguém já reparou, mas aqueles locais que estão directamente sob a alçada do Estado, como por exemplo o Parque Natural do Gerês ou o da Serra da Estrela, são sempre locais onde o fogo é uma realidade todos os anos. Quando o Estado não consegue preservar os seus domínios, seja por incúria ou por falta de meios, como pode vir exigir que outros o façam quando se trata de privados?

A nossa comunicação social também não ajuda. Como há falta de assunto nesta altura do ano (mas não só), o acéfalo jornalismo que nos rodeia – principalmente o das televisões – senta-se à espera que este mísero país comece a arder para montar arraiais à volta da fogueira com os seus directos inflamados para explorar a desgraça alheia, o drama e o pânico das populações em desespero. Tudo, claro, acompanhado com muitas imagens de labaredas e fumaça para compor o cenário. É o quanto mais dramático melhor!

Ainda não tinha começado este triste fado é já as televisões davam ênfase ao baixo número de incêndios verificados este ano, bem como à baixa área ardida. Nunca lhes passa pela cabeça vazia que estão a acordar moscas que estão a dormir. Nunca lhes passa pela cabeça vazia que quanto mais empolam o assunto, quanto mais destaque dão, mais incêndios temos.

Depois da “orgia” vertiginosa das imagens dantescas que são os incêndios, da exploração até à exaustão dos dramas pessoais e da crónica verborreia sobre tudo e sobre nada, eis que chega a vez de se discutir o problema do funcionamento da justiça (ou a falta dela) perante este flagelo sem fim à vista.
Bombeiro no combate às chamas

São bastante comuns as dissertações sobre notícias que saem todos os dias dizendo que a PJ deteve “x” suspeitos; que foram presentes a tribunal “y” pessoas suspeitas disto e daquilo. Tudo conversa para entreter a malta.

Para quê tanto trabalho se no outro dia as notícias passam a ser: incendiário vai aguardar a sentença em liberdade; pena suspensa para incendiário; atenuantes deixam incendiário confesso a cumprir pena em casa.

Quando termina o período critico, os retratos do país em chamas são rapidamente esquecidos até ao ano seguinte. Um ano com poucos fogos e o mais provável é que o homem ou mulher que se sentou no banco dos réus seja mandado para casa com um castigo irrisório e o tradicional conselho: o melhor é tratar-se.

O pânico causado às populações em desespero, os seus bens destruídos, a perda e a devastação do património que é de todos já fazem parte do passado.

O risco de bombeiros e civis mortos já passou e o que sobrou foi alguém que não bate bem da bola, alguém que cedeu a um mau instinto, que agiu em desespero, que reincidiu porque não teve alternativa. E a justiça condescendente, faz-se branda. Mantém a mão demasiado leve para quem destrói tanto num impulso. Num quadro em que três quartos dos fogos têm origem criminosa – números do ano passado do presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses -, é extraordinário que haja pouco mais de 50 pessoas detidas por esse crime.

À semelhança do que acontece nos Estados Unidos, em muitos países europeus o fogo posto já é considerado como um dos crimes mais graves, sendo os responsáveis punidos de acordo com essa premissa. Prisão perpétua, dita a lei em Inglaterra, em França e na Alemanha sempre que o incêndio resulta na morte de alguém; 10, 20, 30 anos atrás das grades noutros casos, dependendo da intenção e da gravidade das perdas. 

Aqui, porém, o fogo posto ainda é visto como um crime menor, passível de ser resolvido com repreensões, multas e penas suspensas. É isto que é preciso mudar. Um incendiário reincidente ou apanhado em flagrante não pode ficar em liberdade nem sequer enquanto espera pela sentença. Os castigos têm de ser exemplares para se tornarem desencorajadores do crime, o tratamento de distúrbios compulsivos, obrigatório. E isto não passa apenas por endurecer a lei, há que moldar mentalidades. Há que entender que um incendiário é um perigoso criminoso.
Imagem do incêndio no Funchal 2016

Eu, pela parte que me toca, sempre defendi um método bem mais simples e muito mais eficaz! Talvez seja demasiado radical para a cabeça de muita gente, mas certamente que se poupava tempo e evitaria despesas extra para um país falido e sem salvação: em vez de apanharem esta gente e levá-la perante um juiz, o melhor era atá-las a um pinheiro e deixá-las lá a assar. Estou convencido que se fizessem isso a dois ou três o problema dos incêndios esta resolvido!


Uma última palavra de apresso para os bombeiros voluntários e todas as restantes entidades envolvidas no combate a esta praga que, a troco de nada e pondo muitas vezes a sua própria vida em risco, defendem aquele que é um património de todos, mas que alguns teimam em distruir!

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O texto duro e obrigatório que temos de ler sobre a Alemanha e o dinheiro
Frankfurt é o coração da finança europeia e sede
das novas instalações do Banco Central Europeu
Foto Tiago Miranda

Pedimos a um especialista alemão que escrevesse sobre o futuro do Deutsche Bank a propósito da sombra que também sobre ele agora cai nesta Europa da crise monetária. Heiner Flassbeck, economista, ex-secretário de Estado das Finanças e ex-conselheiro de Oskar Lafontaine sobre a reforma do Sistema Monetário Europeu, respondeu-nos que o Deutsche Bank é um pormenor num contexto alargado. E contrapropôs este texto longo, técnico, duro e obrigatório que analisa em profundidade a origem da crise do euro e consequentemente da Europa. Flassbeck coloca a Alemanha no coração da origem da crise da moeda única, revela o segredo do crescimento alemão nos últimos 15 anos (“o país tem operado uma política de ‘pedinchar ao vizinho’, mas só de pois de ter ‘pedinchado ao seu próprio povo’ essencialmente através do congelamento dos salários - este é o segredo do sucesso alemão dos últimos 15 anos”) e diz que sem um ajustamento da maior economia europeia o fim da União ganha contornos de possibilidade real. A perspetiva de desintegração e o decorrente colapso da união já não podem ser ignorados, defende Flassbeck
Texto Heiner Flassbeck
Os últimos sete anos têm sido um período tumultuoso para a Europa e o desassossego está longe de ter acabado. A crise global que começou em 2007 conduziu a um choque financeiro agudo em 2008-2009, o qual inaugurou uma recessão em todo o mundo. A Europa – incluindo a Alemanha – foi atingida em pleno quando o crédito contraiu e o comércio mundial retraiu. A verdadeira crise na Europa, no entanto, começou em 2009-2010 quando a recessão induziu o agravamento das finanças públicas, desencadeando uma crise gigantesca na zona euro.
CRISE SEM FIM À VISTA
Havia poucas dúvidas no início de 2015 de que a crise da União Económica e Monetária Europeia (UEM) não tinha desaparecido. Medidas pouco ortodoxas tomadas pelo Banco Central Europeu (BCE), em particular a sua promessa de fazer “o que fosse necessário” para estabilizar o sistema monetário em 2012, acalmaram os mercados financeiros e forneceram espaço para que a política económica agisse de forma estabilizadora.
Apesar disso, ao nível das instituições europeias parece estar a crescer a consciência de que são necessárias mudanças radicais para tornar o sistema mais resistente. E até além da obsessão tradicional com os défices fiscais e dívidas dos governos, a adopção de um mecanismo de aviso precoce para lidar com o núcleo do problema foi accionado com bastante rapidez. A introdução de um Procedimento por Desequilíbrios Macroeconómicos, destinado a lidar com os saldos de conta corrente existentes e futuros e orientar os Estados-membros no sentido de um comércio mais equilibrado, significou algum progresso na compreensão de que uma união monetária requer, acima de tudo, coordenação da evolução dos preços e dos salários.
Heiner Flassbeck - A Alemanha tem de se reajustar, previne
 o economista
Foto Michael  Buholzer / Reuters

OS PRINCÍPIOS MONETÁRIOS NUCLEARES DA UEM
Uma união monetária é antes e acima de tudo uma união de países que querem abdicar das suas moedas nacionais com o objectivo de criar uma moeda comum. Abdicar de uma moeda nacional implica renunciar ao direito de as autoridades nacionais imprimirem moedas e notas e, deste modo, implantar dinheiro nacional (dinheiro fiat). Entrar numa união monetária também implica abdicar dos objectivos de inflação nacionais e concordar com uma meta de inflação comum de uma união.
Quais são as maiores determinações da inflação? A prova mais importante é a correlação alta e estável entre a taxa de crescimento do custo das unidades de trabalho (CUT) e a taxa de inflação. Os custos da unidade de trabalho parecem ser a determinante crucial dos movimentos gerais de preço nas economias nacionais, bem como em grupos de economias. Se a forte correlação entre o CUT e a inflação fosse reconhecida e colocada no coração da análise macroeconómica, tornar-se-ia claro que o principal requisito para unidade monetária de sucesso não seria o controlo sobre os assuntos monetários, mas a gestão das receitas e salários nominais. Para ser específico, o objectivo de inflação comum para a UEM foi definido pelo BCE a uma taxa próxima de 2%. Isto implicava que a regra de ouro para o crescimento salarial em cada economia seria a soma do crescimento de produtividade nacional mais 2%. Por esta medida, não ocorreriam as grandes discrepâncias de inflação que levam às discrepâncias de competitividade entre os Estados-membros.
Indústria - A SIEMENS é um dos gigantes alemães
 que contribuiu para que o país não
baixasse as exportações
Foto Sean Gallup / Reuters

A ALEMANHA COMO FONTE DA CRISE DA ZONA EURO
As preparações para a UEM foram profundamente falhadas porque em vez de se discutirem em detalhe as implicações de uma união monetária e em vez de se criarem as instituições necessárias para gerir com sucesso uma tal união, o debate político e as decisões tomadas nos anos até 1997 – altura em que os critérios para a entrada tinham de estar cumpridos – na realidade focaram-se na política fiscal. Enfatizou-se em particular a limitação dos défices do sector público a 3% do PIB, enquanto a necessidade de evitar os diferencias de inflação e garantir a capacidade de os Estados-membros cumprirem ao longo do tempo os objectivos comuns de inflação foram olhados como questões muito menos importantes para o suave funcionamento da UEM.
A Alemanha, com a sua intolerância absoluta a que a inflação excedesse os 2% e a sua tradição monetária dogmática, silenciou qualquer outro ponto de vista sobre a inflação. No entanto, a Alemanha, o maior país da União Europeia e o bastião da estabilidade de várias décadas, decidiu experimentar um novo modo de combater o seu alto nível de desemprego. Em conjunto com os empresários, o Governo pressionou os sindicatos para tentar restringir o crescimento nominal e real dos salários.
DIFERENÇAS SENSÍVEIS
A nova abordagem alemã ao mercado de trabalho coincidiu com a introdução formal da união monetária, o que levou consequentemente a enormes divergências nos custos nominais de unidades de trabalho entre os membros da UEM. A principal causa destas divergências foi o simples facto de os custos nominais das unidades de trabalho, a mais importante determinante de preços e competitividade, se terem mantido essencialmente sem oscilações desde o início da UEM. Em contraste, a maioria dos países da Europa do Sul tinha um crescimento nominal de salários que excedia o crescimento da produtividade nacional mais o objectivo de inflação acordada em comum de 2% por uma margem baixa, mas bastante estável. França foi o único país que cumpriu exactamente o objectivo de crescimento nominal dos salários. Os salários franceses subiram em paralelo com a performance da produtividade mais o objectivo de inflação do BCE a uma taxa perto de 2%.
Embora a divergência anual entre os aumentos nos custos de unidades de trabalho fosse relativamente pequena, a dinâmica dessa “pequena” divergência anual é capaz de, com o tempo, produzir diferenças enormes. No final da primeira década de UEM, o custo e diferença de preço entre a Alemanha e a Europa do Sul chegava aos 25% e entre a Alemanha e França chegava aos 15%. Por outras palavras, a taxa de câmbio real da Alemanha tinha baixado muito significativamente, embora as moedas nacionais já não existissem na UEM. A divergência no crescimento dos custos das unidades de trabalho já não existiam no seio da UEM. A divergência no crescimento dos custos das unidades era naturalmente reflectida nas divergências de preço equivalentes. Assim, a UEM como um todo alcançou quase na perfeição o objectivo de inflação de 2%, mas as diferenças de inflação nacionais no seio da união foram muito sensíveis.
Tumultos - Na Europa do Sul multiplicaram-se
 as manifestações antieuropeístas
com a Grécia à cabeça
Foto Yannis Behrakis / Reuters

É inegável que a depreciação real que aconteceu na Alemanha teve um enorme impacto nos fluxos de comércio. Com os custos de unidades de trabalho na Alemanha mais baixos relativamente aos dos outros países por uma margem crescente, as exportações alemãs floresceram enquanto as importações abrandaram. Os países na Europa do Sul e também França e Itália começaram a registar défices comerciais e de conta corrente crescentes e sofreram enormes perdas nas suas quotas dos mercados internacionais. A Alemanha, ao contrário, conseguiu preservar a sua quota apesar da competição global crescente com a China e com outros mercados emergentes. Num casulo, a Alemanha tem operado uma política de “pedinchar ao vizinho”, mas só depois de ter “pedinchado ao seu próprio povo” essencialmente através do congelamento dos salários. Este é o segredo do sucesso alemão dos últimos 15 anos.
O comércio dentro da Europa tinha sido bastante equilibrado até ao início da união monetária e ao longo de muitos anos antes disso. A UEM marcou o início de um período de desequilíbrios rapidamente crescentes. Até após o choque da crise financeira e dos seus devastadores efeitos no comércio mundial, que são claramente visíveis no equilíbrio alemão, a tendência de fundo manteve-se sem mudar. A conta-corrente alemã continuou a aumentar depois de 2010 e até alcançou um novo recorde em 2015, da ordem dos 250 mil milhões de euros, um valor próximo de 9% do PIB.
A ALEMANHA TEM DE SE AJUSTAR
Num mundo de taxas cambiais flutuantes ou ajustáveis, nenhum país pode ganhar uma vantagem permanente relativamente a outro país se este último tivesse a opção de ajustar as suas taxas cambiais de acordo com os diferencias da inflação. Isto significa que seriam inúteis todas as tentativas para melhorar a competitividade por via de corte ou moderação de salários na UEM como um todo. E, no entanto, esta foi precisamente a abordagem escolhida pela Europa como saída para a crise. Foi também uma má opção porque o corte salarial na maioria dos países devedores conduziu a quebras severas na procura doméstica, que é mais importante do que a procura externa. A restrição dos salários foi contraproducente em economias com uma taxa de exportação do PIB muito inferior a 50%.
Numa união monetária, um país com uma taxa de exportação baixa que enfrente problemas de défice de conta-corrente muito alto devido a uma moeda implicitamente sobrevalorizada fica sem saída. O ajuste dos salários para baixo, por vezes erroneamente chamados “desvalorização interna”, não só não é solução como também destrói tanto a procura interna como a produção antes que venha a trazer algum alívio através de aumento das exportações.
É por isto que o processo de ajustamento no seio da UEM tem de ser pelo menos simétrico. Significa que o país que tenha implicitamente desvalorizado a sua taxa cambial – a Alemanha – teria de fazer um forte esforço de ajuste crescente, isto é, aumento de salários, enquanto outros países teriam de ajustar lentamente para baixo.
Troika - A verificação aos países devedores pelos peritos
 da troika (Comissão Europeia, BCE e FMI)
 é uma das imagens de separação entre Norte e Sul
Foto Tiago Miranda

O incentivo mais fiável para o sucesso dos esforços de ajustamento em ambos os casos seria de novo o objectivo de inflação. Se o objectivo de inflação comum não fosse questionado, para restaurar a competitividade internacional dos défices dos países seria necessário aumentar os custos das unidades de trabalho e inflação no país com excedente ao ponto de se conseguir alcançar o balanço externo em ambos os lados da união monetária (incluindo os primeiros dez anos).
UEM DIRIGE-SE PARA O DESASTRE
Em meados de 2016, o desemprego na EU continuava nos 10%. Em Espanha e na Grécia, o desemprego estava acima dos 20% e o desemprego jovem era superior a uns extraordinários 50%. Mais do que qualquer outra coisa, estes números mostram o insucesso da EU na luta contra este problema que emergiu como a “crise da zona euro”. Enquanto a queda significativa de crescimento e emprego foi inicialmente provocada pela crise global de 2007-2009, após 2010 as nações devedoras da UEM ficaram privadas de meios para combater a recessão e foram forçadas a adoptar políticas pró-cíclicas numa escala que não se via desde os anos 30.
O mantra alemão que diz “a austeridade é a única solução” foi aplicado a todos os países, que foram forçados a pedir ajuda quando acabou o seu acesso aos mercados globais, ou quando ele lhes foi vedado de facto pelas altíssimas taxas de juro. A obsessão com os aparentes problemas fiscais dominou o debate e as condições que foram exigidas pela troika e pelo Eurogrupo para abrir os cofres das nações credoras concentrou-se na consolidação a qualquer preço e o mais rápido possível dos orçamentos públicos dos países do défice.
“As divergências acumuladas durante os primeiros anos da UEM e a terrível natureza dos programas de ajustamento puseram em questão a própria sobrevivência da EU”
Com a persistência do domínio alemão dos mercados de exportação e dada a recusa alemã de ajustar o seu próprio modelo económico, o futuro da zona euro parece sombrio. A falta de instrumentos de política para atacar a recessão, o condicionamento dos programas de ajustamento impostos às economias em crise, o próprio ajustamento “estrutural” disfuncional e a perspectica de deflação continuada aumentaram os custos de permanecer na UEM ao ponto de a subida política de direita ameaçarem a democracia e a União Europeia. O insucesso na descida das taxas de desemprego e a crescente pobreza abriu caminho aos partidos de direita populistas e antieuropeus, tanto nos países credores como nos devedores. Contra esse perigo, os benefícios de ser membro da UEM são pequenos e, mais importante ainda, estão a diminuir depressa.
Em resumo, as divergências acumuladas durante os primeiros anos da UEM e a terrível natureza dos programas de ajustamento puseram em questão a própria sobrevivência da EU. E, no entanto, os líderes europeus parecem alheios a isso. Parecem ainda menos disponíveis para empreenderem um esforço político para inverter a economia em geral e impedir as divergências e o decorrente colapso da união já não podem ser ignorados.
Texto publicado na edição online do Expresso dia 08-Agosto-2016