Programa
televisivo “Olhos nos Olhos”
No meio do miserável panorama televisivo que nos rodeia,
ainda há um programa a que as pessoas deveriam prestar mais atenção. Falo do
programa “Olhos nos Olhos”, exibido às terças-feiras na TVI24, um programa da autoria
do Dr. Medina Carreira e com a apresentação (normalmente) de Judite de Sousa.
Isto, claro, se não houver nenhuma futebolada para entreter a malta!
Sendo eu um apaixonado pelo futebol, não aceito que as
televisões passem a vida a encher o chouriço com conversas perfeitamente
inócuas em torno do maravilhoso mundo do pontapé na bola! Sempre vivemos com as
prioridades trocadas, essa é que é a realidade…
Ao estar sistematicamente a alterar a grelha da
programação, a TVI demonstra uma total falta de respeito pelos telespectadores,
algo que é muito usual neste tipo de lixeiras televisivas. Serei eu o único a
queixar-me? Não creio!
Voltando ao tema, deixem-me acrescentar o seguinte: eu sei
que neste mísero país à beira-mar plantado, o conhecimento e o saber nunca
fizeram parte das preocupações da grande maioria do povo tuga!
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Dr. Medina Carreira |
A ignorância e o analfabetismo sempre fizeram parte do
cardápio das razões que nos impedem de sair do nosso ancestral atraso de vida. Estou
em crer que serão ainda os resquícios dos 48 anos de salazarismo, onde o povo
era mantido na mais profunda das ignorâncias, porque enquanto assim for, não há
reivindicações nem exigências.
Assim sendo, o pagode vai sendo entretido com a receita do
costume: uma saladinha mista de telenovelas, concursozinhos chunga, “talk
shows” cheios de conversa fiada e “reality shows” de terceira categoria. Ah, e
já me esquecia! Diariamente também gosta de dar uma espreitadela a essa grande
referência jornalística que é o Correio da Manhã…
Será este o resultado de sermos um país completamente
falido, quer financeiramente, quer intelectualmente? Acredito piamente que sim!
Mas como a exigência não é muita, os media vão servindo o prato que a larga maioria aprecia. É barato e
dá milhões, isto é, audiências!
Felizmente ainda há uma ou outra alternativa para fugir às
idiotices que nos querem impor! Tenho pena é que este tipo de programas não
passe em sinal aberto para que todos pudessem ver e ouvir. O mais provável era
que não tivesse grandes audiências. Pois é! Quem não gosta de ouvir as
verdades, o melhor que tem a fazer é mudar de canal.
Ao contrário do que se possa pensar, num programa como este
aprende-se muito. E porquê? Porque o ilustre Dr. Medina Carreira fala através
dos números e dos gráficos que apresenta, muito longe, portanto, da retórica
utilizada pelos nossos brilhantes políticos que, como alguns de nós já está
careca de saber, nos mentem todos os dias e com quantos dentes têm na boca. O
político que fala a verdade não ganha eleições! Então o melhor a fazer é manter
o povinho na ilusão. Imagino que o “ódio” que esta gente sente pelo homem deva
ser a todos os níveis notável!
Os últimos programas têm sido deveras elucidativos,
principalmente aqueles em que Medina Carreira está sozinho, sem o convidado que
costuma levar a cada programa. Quando está sozinho, o homem sente-se como peixe
na água, e disserta sobre os problemas que continuam a fazer regredir o país de
uma maneira clara, lúcida e sem rodeios. Sem papas na língua, se assim
quiserem!
E, pela conversa dele, a coisa vai de mal a pior. Cinco
anos depois do país ter falido e de ter pedido ajuda internacional, depois da
“troika” e da austeridade que nos impuseram e dos sacrifícios que fomos
obrigados a fazer, é com tristeza que se constata que afinal continuamos
basicamente na mesma.
Diz ele que, e passo a citar: “se vamos continuar a
insistir neste caminho, o mais provável é irmos bater outra vez na parede,
ainda com mais estrondo, e a ter de pedir mais uns milhares de milhões de euros
para não nos afogarmos de vez.” Concordo em absoluto com esta afirmação!
Num país sem economia, sem emprego e envelhecido, onde
pensam os nossos responsáveis políticos encontrar as soluções que nos tirem do
abismo?
A despesa pública não pára de aumentar, esteja quem estiver
no governo. As exportações já viram melhores dias. A banca continua com a corda
na garganta, mas isso não os impede de continuarem no mesmo caminho que os
levou à desgraça, isto é, na concessão de crédito para compra de habitação e
para consumo, em vez de o dar às empresas descapitalizadas, pois são essas que
criam riqueza e emprego.
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Programa "Olhos nos Olhos" |
As famosas reformas estruturais de que tanto se fala não
saem do papel. O exemplo mais gritante é a reforma do Estado que ninguém tem
coragem para fazer. Assim vai continuar até que apareça alguém com eles no
sítio capaz de a fazer, doa a quem doer. Os dois principais partidos do nosso
espectro político, PS e PSD, não estão, nem nunca estiveram interessados em
enfrentar o problema de frente, uma vez que isso implica o “despedimento” das respectivas
clientelas partidárias.
O Tribunal Constitucional também não permite que se mexa na
despesa. Do alto da sua imensa sabedoria, em vez de olharem para os números,
agarram-se à sacrossanta Constituição. Tocar na despesa do Estado? Nem pensar!
Isso é sagrado. Pudera, também lhes toca…
Os camaradas do PCP, através dos sindicatos, também não
querem ouvir falar em reformar o quer que seja. Muito pelo contrário. Têm
horror a tudo o que seja iniciativa privada. Querem que tudo esteja nas mãos de
um Estado já de si obeso, completamente burocrático e ineficiente. O Estado
paga tudo. Querem um Estado que garanta o emprego vitalício e os direitos
adquiridos das corporações, ou melhor, da chulagem que sempre se habituou a
viver à conta do erário público.
Se a economia não arranca e não se pode mexer na despesa,
então qual é a alternativa? A resposta é óbvia: mais impostos, taxas e
taxinhas. Acontece que o nível da fiscalidade em cima das empresas e das
pessoas já atingiu o ponto máximo da saturação. Mas se juntarmos a isto o facto
de uma boa parte das empresas e das pessoas não pagarem impostos, então temos um
problema. E sério!
A garotada do Bloco anda, como sempre, entretida com as
chamadas “questões fracturantes”. Assuntos importantíssimos para o futuro do
país como sejam as barrigas de aluguer, o casamento entre pessoas do mesmo
sexo, a eutanásia, ou ainda a mudança do nome do cartão do cidadão. Serão,
certamente, estes assuntos que vão tirar o país do buraco!
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Dr. Medina Carreira |
Enquanto esta malta toda, da esquerda à direita, andar
entretida na Assembleia da República com questões vergonhosas como a reposição
das 35 horas de trabalho para o funcionalismo público, garantidamente que não
iremos sair da cepa torta. Era bom que esta gente ocupasse o seu tempo a
discutir outro tipo de assuntos certamente bem mais relevantes para o nosso
futuro colectivo, como por exemplo: a já referida reforma do Estado, como se
vai conseguir atrair investimento para criar emprego, como se vai resolver a questão
da sustentabilidade da segurança social, ou ainda o problema da baixa
natalidade.
Com o PS refém dos novos “parceiros” de ocasião, este
Governo limita-se a satisfazer as suas exigências e a tentar sobreviver a
qualquer custo, pois aquilo que conta é manter o poleiro. Já sabem que se assim
não for, a qualquer momento ficam sem o tapete e lá se vai o Governo.
Ainda ninguém sabe, mas palpita-me que esta “aliança” entre
socialistas e a esquerda mais radical vai ter consequências desastrosas não só
para o país, mas também para o próprio partido!