domingo, 24 de julho de 2016

RTP, SIC e TVI e os esgotos televisivos

Qualquer pessoa com dois palmos de testa que ligue uma televisão e percorra os quatro canais ditos generalistas de sinal aberto, certamente já se apercebeu da miséria que é oferecida ao povinho.

A falência de um país também se vê naquilo que é transmitido nas nossas televisões, mas se a exigência de quem vê também não for nenhuma, então o resultado é verdadeiramente catastrófico.

No meio de tanta porcaria que nos é oferecida, sobra aquele canal que ainda dá algum relevo à cultura, ao debate, à ciência, ao documentário, a RTP2. O canal que quase ninguém vê, reflexo do baixo nível educacional e cultural de um povo que se diverte com o que de pior a televisão tem para oferecer.

O povo deste triste país à beira-mar plantado nunca foi muito dado ao saber, ao conhecimento, à cultura. Basta consultar um qualquer jornal ou revista que fale de audiências para se verificar por onde andam as suas preferências.

Contenta-se com muito pouco, de preferência com os enlatados que enchem os nossos écrans todos os dias. A palavra exigência nunca fez parte do seu dicionário. Lamento muito que assim seja!

Vejamos:

A RTP1, o principal canal da televisão pública, sustentada pelos impostos dos portugueses (o mesmo acontecendo com a RTP2), foi, ao longo dos anos, entrando em acentuado declínio, consequência do aparecimento das televisões privadas, em primeiro lugar, mas também devido aos progressivos cortes orçamentais efectuados nos últimos anos.

Depois desses cortes, a televisão de todos nós foi obrigada a recorrer à publicidade em larga escala como forma de tentar equilibrar o barco. Na minha opinião, uma televisão que é financiada pelo dinheiro dos contribuintes não deve ter publicidade!

Quando não há dinheiro para garantir uma programação de qualidade, o resultado é a receita tradicional que aos poucos foi tomando conta do panorama televisivo, isto é, telenovelas, concursos chunga, “talk-shows” cheios de conversa fiada, os mesmos filmes exibidos dúzias de vezes, umas futeboladas e toneladas de publicidade.

E já que estou a falar de publicidade, não sei se alguém reparou que os tempos para tal a cada hora de emissão estão claramente a ser ultrapassados, principalmente nas privadas.
Desconheço se a lei foi alterada recentemente, mas o que ela diz é que o canal público tem direito a 6 minutos/hora, ao passo que nas privadas esse valor é de 12 minutos/hora. Por onde anda esse grupinho de inúteis da ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social)? Não têm nada para dizer?

O exemplo que melhor reflete a decadência a que se chegou é o telejornal.
Basta assistir a um para se ver a miséria a que chegou a televisão pública.
Uma hora de duração, meia dúzia de notícias e o resto é palha para encher chouriços.

Chega a ser patético ver o desespero desta gente à procura de assunto, tendo de recorrer muitas vezes às notícias da véspera ou de dias anteriores, uma excepção que deveria ser mesmo isso, uma excepção, mas que se tornou a regra.

Tudo roda à volta de muito pseudo-jornalismo, muito sensacionalismo, muito “fait-divers”, muita conversa inócua, muito “directo” que nada diz, muito circo, muito folclore. É muita parra e pouca uva como dizia o outro…

Um telejornal não deve ter mais de 30-40 minutos de duração. Deve limitar-se às verdadeiras notícias, àquilo que de relevante se passa aqui e lá fora, transmitidas com objectividade e clareza, deixando de lado o acessório e a conversa fiada.

Há muita gente que gosta de apregoar ao vento o chamado “serviço público” feito pelo canal de todos nós, mas por aquilo que se pode ver estamos muito longe dessa realidade. O verdadeiro serviço público de televisão é muito mais do que aquilo que nos é oferecido. Telenovelas, touradas, concursos da treta ou “tertúlias” para entreter os incautos, estão muito longe de ser considerado serviço público. Aqui ou na China!

Se deixarmos de lado a RTP e voltarmo-nos para as privadas, SIC e TVI, então o panorama ainda é mais deprimente. Quando se abriu o sector à iniciativa privada, ficou assente, entre outras coisas, que também estas deveriam reservar uma parte das suas emissões para o “serviço público”. Tal nunca foi cumprido! Mais uma vez: por onde anda a ERC?

A oferta destes dois canais é, a todos os níveis, deplorável! Nem vale a pena perder muito tempo a comentar. Ainda assim, e para lá das medíocres telenovelas “made in Portugal” e dos concursozinhos chunga, não posso deixar passar em claro um fenómeno que só existe em terras lusitanas: os fantásticos “noticiários” de hora e meia, cheios de não assuntos, muito sensacionalismo e demagogia, ao melhor estilo Correio da Manhã. Segundo as audiências, os piores “telejornais”, os das privadas, são aqueles que mais cativam os espectadores. Extraordinário!

Se foi para isto que foram criadas, mais valia nunca terem aparecido, para bem da saúde mental dos portugueses. Pela parte que me toca, nem me lembro que elas existem!

Eu sei que o país atravessa muitas dificuldades, que somos um país pobre, que o Estado não tem dinheiro, que a comunicação social e os grupos que a controlam estão falidos, mas se queremos atingir outros paradigmas, outras metas para, de uma vez por todas, deixarmos de ser um país de acéfalos e atrasados mentais, então o povo tem de abrir os olhos e ser mais interventivo, mais exigente!

Para isso acontecer, precisamos de mudar mentalidades e, ao mesmo tempo, repensar todo o nosso sistema de ensino. A falta de cultura, de saber, de conhecimento, a falta de exigência e o laxismo que caracteriza o ensino em Portugal não pode continuar a ser um entrave ao nosso desenvolvimento colectivo.

É claro que há alternativas para fugir a tanta mediocridade e a tanta imbecilidade! Embora ainda haja uma larga fatia da população que não pode usufruir dela, a televisão por cabo é uma das soluções.

Também tem muitos defeitos, muita porcaria, muito canal que não interessa a ninguém, mas aumenta exponencialmente as escolhas de cada um.

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