RTP, SIC e TVI e os esgotos televisivos
Qualquer pessoa com dois
palmos de testa que ligue uma televisão e percorra os quatro canais ditos
generalistas de sinal aberto, certamente já se apercebeu da miséria que é oferecida
ao povinho.
A falência de um país também
se vê naquilo que é transmitido nas nossas televisões, mas se a exigência de
quem vê também não for nenhuma, então o resultado é verdadeiramente
catastrófico.
No meio de tanta porcaria que
nos é oferecida, sobra aquele canal que ainda dá algum relevo à cultura, ao
debate, à ciência, ao documentário, a RTP2. O canal que quase ninguém vê,
reflexo do baixo nível educacional e cultural de um povo que se diverte com o
que de pior a televisão tem para oferecer.
O povo deste triste país à
beira-mar plantado nunca foi muito dado ao saber, ao conhecimento, à cultura.
Basta consultar um qualquer jornal ou revista que fale de audiências para se
verificar por onde andam as suas preferências.
Contenta-se com muito pouco,
de preferência com os enlatados que enchem os nossos écrans todos os dias. A
palavra exigência nunca fez parte do seu dicionário. Lamento muito que assim
seja!
Vejamos:
A RTP1, o principal canal da
televisão pública, sustentada pelos impostos dos portugueses (o mesmo acontecendo
com a RTP2), foi, ao longo dos anos, entrando em acentuado declínio, consequência
do aparecimento das televisões privadas, em primeiro lugar, mas também devido
aos progressivos cortes orçamentais efectuados nos últimos anos.
Depois desses cortes, a televisão
de todos nós foi obrigada a recorrer à publicidade em larga escala como forma
de tentar equilibrar o barco. Na minha opinião, uma televisão que é financiada
pelo dinheiro dos contribuintes não deve ter publicidade!
Quando não há dinheiro para
garantir uma programação de qualidade, o resultado é a receita tradicional que
aos poucos foi tomando conta do panorama televisivo, isto é, telenovelas, concursos
chunga, “talk-shows” cheios de conversa fiada, os mesmos filmes exibidos dúzias
de vezes, umas futeboladas e toneladas de publicidade.
E já que estou a falar de
publicidade, não sei se alguém reparou que os tempos para tal a cada hora de
emissão estão claramente a ser ultrapassados, principalmente nas privadas.
Desconheço se a lei foi alterada
recentemente, mas o que ela diz é que o canal público tem direito a 6
minutos/hora, ao passo que nas privadas esse valor é de 12 minutos/hora. Por
onde anda esse grupinho de inúteis da ERC (Entidade Reguladora para a
Comunicação Social)? Não têm nada para dizer?
O exemplo que melhor reflete a
decadência a que se chegou é o telejornal.
Basta assistir a um para se
ver a miséria a que chegou a televisão pública.
Uma hora de duração, meia
dúzia de notícias e o resto é palha para encher chouriços.
Chega a ser patético ver o
desespero desta gente à procura de assunto, tendo de recorrer muitas vezes às
notícias da véspera ou de dias anteriores, uma excepção que deveria ser mesmo
isso, uma excepção, mas que se tornou a regra.
Tudo roda à volta de muito
pseudo-jornalismo, muito sensacionalismo, muito “fait-divers”, muita conversa
inócua, muito “directo” que nada diz, muito circo, muito folclore. É muita
parra e pouca uva como dizia o outro…
Um telejornal não deve ter
mais de 30-40 minutos de duração. Deve limitar-se às verdadeiras notícias,
àquilo que de relevante se passa aqui e lá fora, transmitidas com objectividade
e clareza, deixando de lado o acessório e a conversa fiada.
Há muita gente que gosta de
apregoar ao vento o chamado “serviço público” feito pelo canal de todos nós,
mas por aquilo que se pode ver estamos muito longe dessa realidade. O
verdadeiro serviço público de televisão é muito mais do que aquilo que nos é
oferecido. Telenovelas, touradas, concursos da treta ou “tertúlias” para
entreter os incautos, estão muito longe de ser considerado serviço público. Aqui ou na
China!
Se deixarmos de lado a RTP e
voltarmo-nos para as privadas, SIC e TVI, então o panorama ainda é mais
deprimente. Quando se abriu o sector à iniciativa privada, ficou assente, entre
outras coisas, que também estas deveriam reservar uma parte das suas emissões
para o “serviço público”. Tal nunca foi cumprido! Mais uma vez: por onde anda a
ERC?
A oferta destes dois canais é,
a todos os níveis, deplorável! Nem vale a pena perder muito tempo a comentar. Ainda
assim, e para lá das medíocres telenovelas “made in Portugal” e dos concursozinhos
chunga, não posso deixar passar em claro um fenómeno que só existe em terras
lusitanas: os fantásticos “noticiários” de hora e meia, cheios de não assuntos,
muito sensacionalismo e demagogia, ao melhor estilo Correio da Manhã. Segundo
as audiências, os piores “telejornais”, os das privadas, são aqueles que mais
cativam os espectadores. Extraordinário!
Se foi para isto que foram
criadas, mais valia nunca terem aparecido, para bem da saúde mental dos
portugueses. Pela parte que me toca, nem me lembro que elas existem!
Eu sei que o país atravessa
muitas dificuldades, que somos um país pobre, que o Estado não tem dinheiro,
que a comunicação social e os grupos que a controlam estão falidos, mas se
queremos atingir outros paradigmas, outras metas para, de uma vez por todas,
deixarmos de ser um país de acéfalos e atrasados mentais, então o povo tem de
abrir os olhos e ser mais interventivo, mais exigente!
Para isso acontecer,
precisamos de mudar mentalidades e, ao mesmo tempo, repensar todo o nosso
sistema de ensino. A falta de cultura, de saber, de conhecimento, a falta de
exigência e o laxismo que caracteriza o ensino em Portugal não pode continuar a
ser um entrave ao nosso desenvolvimento colectivo.
É claro que há alternativas
para fugir a tanta mediocridade e a tanta imbecilidade! Embora ainda haja uma
larga fatia da população que não pode usufruir dela, a televisão por cabo é uma
das soluções.
Também tem muitos defeitos,
muita porcaria, muito canal que não interessa a ninguém, mas aumenta
exponencialmente as escolhas de cada um.
Sem comentários:
Enviar um comentário