quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Os incêndios

Todos os anos, na altura do Verão, a tragédia repete-se com o flagelo dos incêndios. A falta de uma política efectiva para combater este problema é sempre discutida no calor do momento, mas rapidamente entra no esquecimento mal chegam as primeiras chuvas. 

Todos os anos, sem excepção, assistimos ao mesmo filme. O desordenamento da floresta e do território, os interesses obscuros, a falta de meios, a inoperância das câmaras municipais, a incompetência dos governos, o laxismo e a incúria das pessoas são sempre usados para esconder um grave problema que dura há demasiado tempo. Já é tempo mais do que suficiente para acabar com esta pouca vergonha! De retórica está o mundo cheio, já dizia o outro!
Uma imagem recorrente no Verão em Portugal

Não temos meios eficazes para o combate de incêndios! Os bombeiros estão relativamente bem equipados para incêndios de baixa e média intensidade, mas quando se trata de grandes incêndios os problemas reais ficam evidentes. O exército que podia muito bem ser utilizado na vigilância e prevenção desta calamidade, permanece enfiada nos quartéis à espera que chova… A Força Aérea acabou de nos dar uma novidade como se andássemos todos distraídos e ainda não soubéssemos: não tem meios para o combate!

Não sei se alguém já reparou, mas aqueles locais que estão directamente sob a alçada do Estado, como por exemplo o Parque Natural do Gerês ou o da Serra da Estrela, são sempre locais onde o fogo é uma realidade todos os anos. Quando o Estado não consegue preservar os seus domínios, seja por incúria ou por falta de meios, como pode vir exigir que outros o façam quando se trata de privados?

A nossa comunicação social também não ajuda. Como há falta de assunto nesta altura do ano (mas não só), o acéfalo jornalismo que nos rodeia – principalmente o das televisões – senta-se à espera que este mísero país comece a arder para montar arraiais à volta da fogueira com os seus directos inflamados para explorar a desgraça alheia, o drama e o pânico das populações em desespero. Tudo, claro, acompanhado com muitas imagens de labaredas e fumaça para compor o cenário. É o quanto mais dramático melhor!

Ainda não tinha começado este triste fado é já as televisões davam ênfase ao baixo número de incêndios verificados este ano, bem como à baixa área ardida. Nunca lhes passa pela cabeça vazia que estão a acordar moscas que estão a dormir. Nunca lhes passa pela cabeça vazia que quanto mais empolam o assunto, quanto mais destaque dão, mais incêndios temos.

Depois da “orgia” vertiginosa das imagens dantescas que são os incêndios, da exploração até à exaustão dos dramas pessoais e da crónica verborreia sobre tudo e sobre nada, eis que chega a vez de se discutir o problema do funcionamento da justiça (ou a falta dela) perante este flagelo sem fim à vista.
Bombeiro no combate às chamas

São bastante comuns as dissertações sobre notícias que saem todos os dias dizendo que a PJ deteve “x” suspeitos; que foram presentes a tribunal “y” pessoas suspeitas disto e daquilo. Tudo conversa para entreter a malta.

Para quê tanto trabalho se no outro dia as notícias passam a ser: incendiário vai aguardar a sentença em liberdade; pena suspensa para incendiário; atenuantes deixam incendiário confesso a cumprir pena em casa.

Quando termina o período critico, os retratos do país em chamas são rapidamente esquecidos até ao ano seguinte. Um ano com poucos fogos e o mais provável é que o homem ou mulher que se sentou no banco dos réus seja mandado para casa com um castigo irrisório e o tradicional conselho: o melhor é tratar-se.

O pânico causado às populações em desespero, os seus bens destruídos, a perda e a devastação do património que é de todos já fazem parte do passado.

O risco de bombeiros e civis mortos já passou e o que sobrou foi alguém que não bate bem da bola, alguém que cedeu a um mau instinto, que agiu em desespero, que reincidiu porque não teve alternativa. E a justiça condescendente, faz-se branda. Mantém a mão demasiado leve para quem destrói tanto num impulso. Num quadro em que três quartos dos fogos têm origem criminosa – números do ano passado do presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses -, é extraordinário que haja pouco mais de 50 pessoas detidas por esse crime.

À semelhança do que acontece nos Estados Unidos, em muitos países europeus o fogo posto já é considerado como um dos crimes mais graves, sendo os responsáveis punidos de acordo com essa premissa. Prisão perpétua, dita a lei em Inglaterra, em França e na Alemanha sempre que o incêndio resulta na morte de alguém; 10, 20, 30 anos atrás das grades noutros casos, dependendo da intenção e da gravidade das perdas. 

Aqui, porém, o fogo posto ainda é visto como um crime menor, passível de ser resolvido com repreensões, multas e penas suspensas. É isto que é preciso mudar. Um incendiário reincidente ou apanhado em flagrante não pode ficar em liberdade nem sequer enquanto espera pela sentença. Os castigos têm de ser exemplares para se tornarem desencorajadores do crime, o tratamento de distúrbios compulsivos, obrigatório. E isto não passa apenas por endurecer a lei, há que moldar mentalidades. Há que entender que um incendiário é um perigoso criminoso.
Imagem do incêndio no Funchal 2016

Eu, pela parte que me toca, sempre defendi um método bem mais simples e muito mais eficaz! Talvez seja demasiado radical para a cabeça de muita gente, mas certamente que se poupava tempo e evitaria despesas extra para um país falido e sem salvação: em vez de apanharem esta gente e levá-la perante um juiz, o melhor era atá-las a um pinheiro e deixá-las lá a assar. Estou convencido que se fizessem isso a dois ou três o problema dos incêndios esta resolvido!


Uma última palavra de apresso para os bombeiros voluntários e todas as restantes entidades envolvidas no combate a esta praga que, a troco de nada e pondo muitas vezes a sua própria vida em risco, defendem aquele que é um património de todos, mas que alguns teimam em distruir!

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