PORTUGAL AINDA TEM UMA DAS
MAIORES TAXAS DE ANALFABETISMO NA EUROPA
Nos anos 70, um em cada quatro
portugueses não sabia ler, o que representava uma taxa de 25%. Hoje,
felizmente, são menos de 5%, mas Portugal continua no topo da tabela dos países
europeus com maior taxa de analfabetismo.
Mais de quarenta anos depois
do 25 de Abril, ainda há cerca de meio milhão de analfabetos em Portugal,
segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), baseados nos Censos
de 2011.
A maioria é idosa e vive no
interior do país. No entanto, existem mais 30 mil que ainda se encontram em
idade activa, ou seja, com idades compreendidas entre os 18 e os 65 anos.
Fonte: Edenevaldo Alves |
Apesar do atraso em comparação
com a média europeia, a situação melhorou consideravelmente nas últimas
décadas. “Em meados do século passado, Portugal encontrava-se numa situação
muito mais desfavorável do que a dos países do norte da Europa em meados do
século XIX”, refere o estudo do INE sobre “50 anos de Estatísticas da
Educação”, sublinhando o atraso de um século em relação aos países mais
desenvolvidos.
Durante a ditadura, cantar o
hino e rezar faziam parte do dia-a-dia dos alunos. Todas as salas de aula
tinham a fotografia de Salazar e todos sabiam a tabuada “de cor e salteado”
assim como as terras que apareciam no mapa com as ex-colónias. Mas esta era uma
realidade conhecida por poucos.
Na década de 50 do século
passado metade das raparigas nunca chegou a conhecer uma sala de aulas, assim
como 30% dos rapazes, apesar da lei definir que elas eram obrigadas a
frequentar a escola até à 3ª classe e eles até à 4ª.
A situação foi gradualmente
melhorando com campanhas de educação para adultos, a telescola a chegar às
aldeias mais remotas, a redução do abandono escolar e o aumento da escolaridade
obrigatória.
ENSINO CHEGA ÀS
ALDEIAS REMOTAS
Foi ainda na década de 50 que
surgiram as primeiras campanhas de educação para adultos mas, na década
seguinte, saber ler e escrever ainda era um privilégio só ao alcance de alguns:
quatro em cada dez mulheres eram analfabetas assim como 27% dos homens.
É nesta altura que o ensino
chega aos lugares mais remotos através da telescola, usando a mais avançada
tecnologia daquele tempo: a televisão.
Uma década depois, no dia da
revolução dos cravos, 25% dos portugueses continuavam afastados dos saberes da
escola.
Ainda do tempo do Estado Novo,
o último ministro da Educação do regime, José Veiga Simão, elaborou um sistema
de ensino que valorizava a educação pré-escolar, a formação dos professores e
obrigava as crianças a estudar durante oito anos.
Uma das bandeiras da revolução
foi a aposta na educação: em 40 anos a taxa de analfabetismo desceu de forma
contínua, mas nunca atingiu o objectivo constitucional de uma escolarização
universal.
Apesar de todos os avanços
conseguidos de então para cá, continuamos a travar uma batalha que está longe
de estar ganha. Há anos que se discutem as sistemáticas mudanças nas políticas
educativas, a avaliação dos professores, o laxismo e a falta de exigência que
ainda persiste no nosso sistema de ensino.
DEZ VEZES MAIS
ALUNOS NO SECUNDÁRIO
Hoje, Portugal tem dez vezes
mais alunos no ensino secundário do que a 25 de Abril de 1974. A taxa de
analfabetismo chegou aos 9% em 2001 e, em apenas dez anos, desceu quase para
metade (5%), mas Portugal continua a estar entre os países da Europa com mais
pessoas sem saber ler nem escrever.
O Alentejo é a região mais
problemática, com uma taxa de analfabetismo superior a 9%. Em Borba, por
exemplo, um em cada dez habitantes não sabe ler nem escrever.
O oposto verifica-se na região
de Lisboa. Ainda assim, não é a capital que apresenta a taxa mais baixa
(3,19%). Por todo o país existem cidades com taxas de analfabetismo inferiores,
como Valongo ou a Maia (ambos com 1,79%), Braga (2,62%), Vila Nova de Santo
André (1,81%) ou Albufeira (2,77%).
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