segunda-feira, 5 de setembro de 2016

PORTUGAL AINDA TEM UMA DAS MAIORES TAXAS DE ANALFABETISMO NA EUROPA


Nos anos 70, um em cada quatro portugueses não sabia ler, o que representava uma taxa de 25%. Hoje, felizmente, são menos de 5%, mas Portugal continua no topo da tabela dos países europeus com maior taxa de analfabetismo.

Mais de quarenta anos depois do 25 de Abril, ainda há cerca de meio milhão de analfabetos em Portugal, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), baseados nos Censos de 2011.

A maioria é idosa e vive no interior do país. No entanto, existem mais 30 mil que ainda se encontram em idade activa, ou seja, com idades compreendidas entre os 18 e os 65 anos.
Fonte: Edenevaldo Alves


Apesar do atraso em comparação com a média europeia, a situação melhorou consideravelmente nas últimas décadas. “Em meados do século passado, Portugal encontrava-se numa situação muito mais desfavorável do que a dos países do norte da Europa em meados do século XIX”, refere o estudo do INE sobre “50 anos de Estatísticas da Educação”, sublinhando o atraso de um século em relação aos países mais desenvolvidos.

Durante a ditadura, cantar o hino e rezar faziam parte do dia-a-dia dos alunos. Todas as salas de aula tinham a fotografia de Salazar e todos sabiam a tabuada “de cor e salteado” assim como as terras que apareciam no mapa com as ex-colónias. Mas esta era uma realidade conhecida por poucos.

Na década de 50 do século passado metade das raparigas nunca chegou a conhecer uma sala de aulas, assim como 30% dos rapazes, apesar da lei definir que elas eram obrigadas a frequentar a escola até à 3ª classe e eles até à 4ª.

A situação foi gradualmente melhorando com campanhas de educação para adultos, a telescola a chegar às aldeias mais remotas, a redução do abandono escolar e o aumento da escolaridade obrigatória.

ENSINO CHEGA ÀS ALDEIAS REMOTAS

Foi ainda na década de 50 que surgiram as primeiras campanhas de educação para adultos mas, na década seguinte, saber ler e escrever ainda era um privilégio só ao alcance de alguns: quatro em cada dez mulheres eram analfabetas assim como 27% dos homens.

É nesta altura que o ensino chega aos lugares mais remotos através da telescola, usando a mais avançada tecnologia daquele tempo: a televisão.

Uma década depois, no dia da revolução dos cravos, 25% dos portugueses continuavam afastados dos saberes da escola.

Ainda do tempo do Estado Novo, o último ministro da Educação do regime, José Veiga Simão, elaborou um sistema de ensino que valorizava a educação pré-escolar, a formação dos professores e obrigava as crianças a estudar durante oito anos.

Uma das bandeiras da revolução foi a aposta na educação: em 40 anos a taxa de analfabetismo desceu de forma contínua, mas nunca atingiu o objectivo constitucional de uma escolarização universal.

Apesar de todos os avanços conseguidos de então para cá, continuamos a travar uma batalha que está longe de estar ganha. Há anos que se discutem as sistemáticas mudanças nas políticas educativas, a avaliação dos professores, o laxismo e a falta de exigência que ainda persiste no nosso sistema de ensino.

DEZ VEZES MAIS ALUNOS NO SECUNDÁRIO

Hoje, Portugal tem dez vezes mais alunos no ensino secundário do que a 25 de Abril de 1974. A taxa de analfabetismo chegou aos 9% em 2001 e, em apenas dez anos, desceu quase para metade (5%), mas Portugal continua a estar entre os países da Europa com mais pessoas sem saber ler nem escrever.

O Alentejo é a região mais problemática, com uma taxa de analfabetismo superior a 9%. Em Borba, por exemplo, um em cada dez habitantes não sabe ler nem escrever.


O oposto verifica-se na região de Lisboa. Ainda assim, não é a capital que apresenta a taxa mais baixa (3,19%). Por todo o país existem cidades com taxas de analfabetismo inferiores, como Valongo ou a Maia (ambos com 1,79%), Braga (2,62%), Vila Nova de Santo André (1,81%) ou Albufeira (2,77%). 

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